Há muito prologam-se
massivas discussões acerca da dicotômica e, a meu ver, inerte análise entre
oralistas e gestualistas. Já vimos que arraigadas às premissas que circulam
entre tais teorias permeiam ideias errôneas que trazem consigo antagonismos
capazes de promulgar a exclusão da pessoa com surdez do meio social enaltecendo
a permanência das mesmas em uma redoma de onde dificilmente conseguirão sair.
Sendo assim, o simples fato de termos a consciência de que tal embate é deveras
desnecessário, pois centraliza sua importância nas questões meramente
linguísticas significa uma promoção na caminhada para que possamos entender que
o âmbito coletivo, social, conjunto é muito mais significativo que uma ou outra
teoria, uma vez que, como Mirlane Ferreira Macedo Damásio e Josimério de Paulo
Ferreira relatam, por mais diferentes que nós humanos sejamos, sempre nos
igualamos na convivência, nas relações, enfim, nas interações, por sermos humanos.
O
ambiente escolar, portanto, deve trabalhar suas práticas pedagógicas no sentido
de criar um ambiente de estímulo para o aluno visto que não se quer, em momento
algum, negar a existência da deficiência proveniente do biológico humano e sim,
estabelecer conexões com os demais sentidos no intuito de desenvolver outros
aspectos como os cognitivos, culturais, sociais e linguísticos. No documento
Educação de Pessoas com Surdez publicado na revista Inclusão do Ministério da
Educação, jan/jul 2010 os autores dentre outros enfoques acreditam que o AEE PS
embasado nos dispositivos legais que determinam o direito de uma educação
bilíngue, em que Libras e Língua Portuguesa escrita constituam línguas de
instrução do desenvolvimento de todo o processo educativo detém suas atividades
centrado no pensamento de que deve ser tomado como um sistema de redes
interligadas unindo professor do ensino comum ao do AEE PS unindo pratica e
teoria e pensando sua prática pedagógica sem rupturas e distanciamentos
objetivando, por fim, uma conexão entre o pensar e o saber pedagógico.
Em
um enfoque menos universalista o professor do AEE atua por meio de uma
Pedagogia contextual Relacional despertando um movimento de relação do
indivíduo com o meio ambiente e consequentemente criando um significado para o
cotidiano culminando, finalmente, em uma melhoria na compreensão do conteúdo trabalhado
justamente por meio dessas vivências contextuais relacionadas. Sendo assim, é
de responsabilidade e autoridade do professor do AEE PS a escolha dos melhores
recursos e procedimentos para a criação de uma metodologia capaz de fortalecer
um cotidiano escolar que capacite o aluno a aprender a aprender, ou seja, por
meio de contextualizações devidamente planejadas, o aluno será incentivado a provocar
um questionamento e a buscar respostas a esses anseios. Na busca de tais
respostas surgirão os conflitos com o anteriormente estabelecido e assim serão
aceitas ou excluídas as possíveis respostas. A repetição deste ato consentirá a
existência de um aprendizado significativo e por meio deste a pessoa com surdez
poderá aplicar tal experiência em seu cotidiano.
Cabe
ressaltar que, além de respeitar os princípios pedagógicos que garantem o
acesso às duas línguas obrigatórias o AEE PS é idealizado mediante a formação
do professor e do diagnóstico inicial do aluno com surdez. Em um segundo
momento, o plano de AEE PS é definido em três momentos: Atendimento Educacional
Especializado em Libras; Atendimento Educacional Especializado para o ensino da
Língua Portuguesa escrita; Atendimento Educacional Especializado para o ensino
de Libras.
Adentrando no âmbito das
línguas de instrução determinantemente parte necessária para o pleno
desenvolvimento do aluno com surdez, temos de compreender que o atendimento de AEE
em Libras deve ocorrer diariamente e em horário contrário aos da sala de aula
comum, podendo ser anterior aos conteúdos da sala comum a fim de garantir uma
melhor associação de conceitos nas línguas. A organização espacial deve ser
repleta de imagens visuais e ainda, preconizar a existência de teatros para
enriquecer a aprendizagem de conceitos que podem se apresentar muito abstratos.
O AEE para o ensino de Libras o atendimento é principiado com o diagnóstico do
aluno quanto à noção da Língua de Sinais e acontece diariamente, também no
contra turno à sala de aula comum. É realizado pelo instrutor de Libras (pessoa
com surdez).
Quanto
ao ensino Língua Portuguesa Escrita ainda divagamos entre conceitos e teorias
sem ter uma organização formal estabelecida e que consiga sanar as dificuldades
oriundas, dentre outras, da complexidade linguística apresentada pela pessoa
com surdez. Contudo, os autores Mirlane Ferreira Macedo Damásio e Josimério de
Paulo Ferreira (doravante PE) elucidam uma proposta didático-pedagógica e
metodológica para o ensino do português para a pessoa com surdez concebendo
língua e linguagem como processos de interação e uso nas práticas sociais
caracterizando dessa forma, a língua portuguesa escrita como eficaz instrumento
para a constituição do aluno com surdez como sujeito/cidadão por meio do
estabelecimento de interações verbais entre o eu e o outro e dessa relação o
surgimento e apropriação de conhecimentos científicos, saberes e bens
culturais. Os autores descrevem ainda
que os processos teóricos-metodológicos para o ensino e aprendizagem da pessoa
com surdez PE poderão se consolidar por meio de uma proposta
politico-pedagógica que norteie um primeiro nível de ensino voltados para os
processos iniciais de alfabetizar e letrar em seguida, norteando processos
intermediários de maior complexidade promovendo atos de ler, interpretar e
escreve e finalmente, com apropriação da
língua oficial escrita estando a mesma em pleno alcance da pessoa com surdez o
tornando apto para construções textuais e discursivas de maior complexidade bem
como na produção de processos de leitura mais abrangentes.
Para
o ensino de PE o professor do AEE deve, preferencialmente, ter sua formação em
letras bem como o professor de libras deve ser qualificado para o magistério e,
objetivando um melhor aproveitamento, ser um profissional com surdez justamente
por promover maior naturalidade ao processo de aquisição da língua. Este
profissional deve ter em mente a produção de um processo que não misture Libras
e Língua Portuguesa por serem de estruturas linguísticas diferentes.
O
dever para com a elaboração e viabilização de politicas inclusivas da pessoa
com surdez é, constantemente, tema de discussões e suscita, cada vez mais, do
apoio de uma gama de pessoas que não só atuam como gestores e pensadores do
processo como um todo e não em menor grau, da sociedade civil que, humanamente,
deve entender e abraçar a causa com a sua devida importância. Centralizando
nossa explanação, é no seio da escola onde se travam as principais batalhas no
intuito de promover, preparar e alimentar o espirito da pessoa com surdez no
que concerne à própria colocação do mesmo como ser social. Para tanto, o mesmo
necessita de todo o aparato educacional para que possa, com propriedade,
abandonar o chamado mundo surdo e adentrar no convívio social com capacidade e
autoconfiança que lhe são essenciais para que se sinta agente do seu próprio
desenvolvimento.
Referência
DAMÁZIO,
Mirlene Ferreira Macedo. FERREIRA, Josimário de Paulo. Educação Escolar de
Pessoas com Surdez – Atendimento Educacional Especializado em Construção. Texto
publicado na revista Inclusão do Ministério da Educação, jan/jul 2010.