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sábado, 8 de março de 2014

Atendimento Educacional Especializado para pessoas com Surdez



           Há muito prologam-se massivas discussões acerca da dicotômica e, a meu ver, inerte análise entre oralistas e gestualistas. Já vimos que arraigadas às premissas que circulam entre tais teorias permeiam ideias errôneas que trazem consigo antagonismos capazes de promulgar a exclusão da pessoa com surdez do meio social enaltecendo a permanência das mesmas em uma redoma de onde dificilmente conseguirão sair. Sendo assim, o simples fato de termos a consciência de que tal embate é deveras desnecessário, pois centraliza sua importância nas questões meramente linguísticas significa uma promoção na caminhada para que possamos entender que o âmbito coletivo, social, conjunto é muito mais significativo que uma ou outra teoria, uma vez que, como Mirlane Ferreira Macedo Damásio e Josimério de Paulo Ferreira relatam, por mais diferentes que nós humanos sejamos, sempre nos igualamos na convivência, nas relações, enfim, nas interações, por sermos humanos.
         O ambiente escolar, portanto, deve trabalhar suas práticas pedagógicas no sentido de criar um ambiente de estímulo para o aluno visto que não se quer, em momento algum, negar a existência da deficiência proveniente do biológico humano e sim, estabelecer conexões com os demais sentidos no intuito de desenvolver outros aspectos como os cognitivos, culturais, sociais e linguísticos. No documento Educação de Pessoas com Surdez publicado na revista Inclusão do Ministério da Educação, jan/jul 2010 os autores dentre outros enfoques acreditam que o AEE PS embasado nos dispositivos legais que determinam o direito de uma educação bilíngue, em que Libras e Língua Portuguesa escrita constituam línguas de instrução do desenvolvimento de todo o processo educativo detém suas atividades centrado no pensamento de que deve ser tomado como um sistema de redes interligadas unindo professor do ensino comum ao do AEE PS unindo pratica e teoria e pensando sua prática pedagógica sem rupturas e distanciamentos objetivando, por fim, uma conexão entre o pensar e o saber pedagógico.
          Em um enfoque menos universalista o professor do AEE atua por meio de uma Pedagogia contextual Relacional despertando um movimento de relação do indivíduo com o meio ambiente e consequentemente criando um significado para o cotidiano culminando, finalmente, em uma melhoria na compreensão do conteúdo trabalhado justamente por meio dessas vivências contextuais relacionadas. Sendo assim, é de responsabilidade e autoridade do professor do AEE PS a escolha dos melhores recursos e procedimentos para a criação de uma metodologia capaz de fortalecer um cotidiano escolar que capacite o aluno a aprender a aprender, ou seja, por meio de contextualizações devidamente planejadas, o aluno será incentivado a provocar um questionamento e a buscar respostas a esses anseios. Na busca de tais respostas surgirão os conflitos com o anteriormente estabelecido e assim serão aceitas ou excluídas as possíveis respostas. A repetição deste ato consentirá a existência de um aprendizado significativo e por meio deste a pessoa com surdez poderá aplicar tal experiência em seu cotidiano.
          Cabe ressaltar que, além de respeitar os princípios pedagógicos que garantem o acesso às duas línguas obrigatórias o AEE PS é idealizado mediante a formação do professor e do diagnóstico inicial do aluno com surdez. Em um segundo momento, o plano de AEE PS é definido em três momentos: Atendimento Educacional Especializado em Libras; Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa escrita; Atendimento Educacional Especializado para o ensino de Libras.
          Adentrando no âmbito das línguas de instrução determinantemente parte necessária para o pleno desenvolvimento do aluno com surdez, temos de compreender que o atendimento de AEE em Libras deve ocorrer diariamente e em horário contrário aos da sala de aula comum, podendo ser anterior aos conteúdos da sala comum a fim de garantir uma melhor associação de conceitos nas línguas. A organização espacial deve ser repleta de imagens visuais e ainda, preconizar a existência de teatros para enriquecer a aprendizagem de conceitos que podem se apresentar muito abstratos. O AEE para o ensino de Libras o atendimento é principiado com o diagnóstico do aluno quanto à noção da Língua de Sinais e acontece diariamente, também no contra turno à sala de aula comum. É realizado pelo instrutor de Libras (pessoa com surdez).
          Quanto ao ensino Língua Portuguesa Escrita ainda divagamos entre conceitos e teorias sem ter uma organização formal estabelecida e que consiga sanar as dificuldades oriundas, dentre outras, da complexidade linguística apresentada pela pessoa com surdez. Contudo, os autores Mirlane Ferreira Macedo Damásio e Josimério de Paulo Ferreira (doravante PE) elucidam uma proposta didático-pedagógica e metodológica para o ensino do português para a pessoa com surdez concebendo língua e linguagem como processos de interação e uso nas práticas sociais caracterizando dessa forma, a língua portuguesa escrita como eficaz instrumento para a constituição do aluno com surdez como sujeito/cidadão por meio do estabelecimento de interações verbais entre o eu e o outro e dessa relação o surgimento e apropriação de conhecimentos científicos, saberes e bens culturais.  Os autores descrevem ainda que os processos teóricos-metodológicos para o ensino e aprendizagem da pessoa com surdez PE poderão se consolidar por meio de uma proposta politico-pedagógica que norteie um primeiro nível de ensino voltados para os processos iniciais de alfabetizar e letrar em seguida, norteando processos intermediários de maior complexidade promovendo atos de ler, interpretar e escreve e finalmente,  com apropriação da língua oficial escrita estando a mesma em pleno alcance da pessoa com surdez o tornando apto para construções textuais e discursivas de maior complexidade bem como na produção de processos de leitura mais abrangentes.
          Para o ensino de PE o professor do AEE deve, preferencialmente, ter sua formação em letras bem como o professor de libras deve ser qualificado para o magistério e, objetivando um melhor aproveitamento, ser um profissional com surdez justamente por promover maior naturalidade ao processo de aquisição da língua. Este profissional deve ter em mente a produção de um processo que não misture Libras e Língua Portuguesa por serem de estruturas linguísticas diferentes.
       O dever para com a elaboração e viabilização de politicas inclusivas da pessoa com surdez é, constantemente, tema de discussões e suscita, cada vez mais, do apoio de uma gama de pessoas que não só atuam como gestores e pensadores do processo como um todo e não em menor grau, da sociedade civil que, humanamente, deve entender e abraçar a causa com a sua devida importância. Centralizando nossa explanação, é no seio da escola onde se travam as principais batalhas no intuito de promover, preparar e alimentar o espirito da pessoa com surdez no que concerne à própria colocação do mesmo como ser social. Para tanto, o mesmo necessita de todo o aparato educacional para que possa, com propriedade, abandonar o chamado mundo surdo e adentrar no convívio social com capacidade e autoconfiança que lhe são essenciais para que se sinta agente do seu próprio desenvolvimento.

Referência

DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. FERREIRA, Josimário de Paulo. Educação Escolar de Pessoas com Surdez – Atendimento Educacional Especializado em Construção. Texto publicado na revista Inclusão do Ministério da Educação, jan/jul 2010.